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GERAÇÃO CONECTADA


Congresso da Infância e Juventude promove escuta ativa da experiência de jovens no uso da internet

O congresso reuniu defensoras e defensores públicos de todo o Brasil, psicólogos, assistentes sociais, médicos e representantes de organizações sociais

Por Djhuliana Mundel
23 de de 2024 - 16:32
Isabela Mercuri Congresso da Infância e Juventude promove escuta ativa da experiência de jovens no uso da internet

O Congresso evidenciou que, apesar das dificuldades, as vozes das crianças e adolescentes são fundamentais na construção de um ambiente digital mais positivo.


O IX Congresso Nacional das Defensoras e Defensores Públicos da Infância e Juventude, realizado nos dias 21, 22 e 23 de agosto, em Cuiabá, trouxe uma inovação significativa em uma abordagem inovadora e sensível ao incluir crianças e adolescentes nas discussões sobre um tema tão atual quanto o uso da internet e das redes sociais, permitindo que eles compartilhem suas experiências e perspectivas. 

Com o tema "Cultura digital e cibercultura: desafios e potencialidades para proteção integral de crianças e adolescentes" o congresso reuniu defensoras e defensores públicos de todo o Brasil, psicólogos, assistentes sociais, médicos e representantes de organizações sociais, com destaque para a escuta ativa das crianças e adolescentes em um tema tão atual e relevante. 

Durante a roda de conversa, jovens de 10 a 17 anos, representando a Comissão de Participação de Adolescentes, o Coral Canto & Encanto, o Acolhimento, além de estudante de escola pública, migrante, adolescentes em cumprimento de medida, filhos de catadores de material reciclável, quilombolas e portadores de necessidades especiais (PCDs), compartilharam suas vivências, impressões e desafios relacionados ao uso das plataformas digitais. Muitos deles destacaram as redes sociais como um espaço valioso para estudos, pesquisa, entretenimento e interação, onde podem se conectar com amigos e familiares, compartilhar suas opiniões e se manter informados sobre questões que os afetam diretamente.  

Contudo, os adolescentes também ressaltaram os aspectos negativos desse universo virtual. Entre os principais problemas mencionados estão o cyberbullying, a pressão para se conformar a padrões de beleza e comportamento e a disseminação de desinformação. Essas questões levantaram preocupações sobre a saúde mental dos jovens, com muitos admitindo que, em alguns momentos, a interação online pode se tornar angustiante. 

Um dos depoimentos mais fortes foi da adolescente A.L.A.M., representando os PCDs, que comentou sobre os comentários maldosos que recebe em suas redes sociais. “Nós, pessoas com deficiência, somos muito discriminadas, sofremos cyberbullying. Os comentários que a gente recebe são muito maldosos. É muito triste ler os comentários e ver tanta maldade de alguém”. 

Para lidar com esses desafios, as crianças e adolescentes apresentaram algumas estratégias que têm adotado. A maioria enfatizou a importância de ter um diálogo aberto com os responsáveis sobre o que veem e como se sentem nas redes sociais. Além disso, muitos destacaram a relevância de educar-se sobre privacidade e segurança online, buscando manter suas informações pessoais protegidas e sabendo como lidar com conteúdos prejudiciais. 

“A internet é perigosa a partir do momento que você não tem uma instrução, um guia que possa te levar a ter esse conhecimento de como utilizar ela de forma segura. Você precisa estar sempre consciente do tipo de coisa que você está consumindo e acessando e como as coisas que você consome estão consumindo você também. Isso é a parte mais importante. Se você não conseguir colocar um limite e ficar esperto com o que você está consumindo, isso pode te levar a muitos riscos”, alertou a jovem E. C. R. S., representante das escolas públicas.  

O evento também propôs uma reflexão sobre a necessidade de políticas públicas que promovam uma internet mais segura e inclusiva para todos os jovens.  “É bem possível que a Defensoria Pública assuma o papel de provocar para que seja feita uma política pública pra minimizar os danos às crianças e não para impedir o uso da tecnologia. Precisamos incentivar o uso correto da tecnologia, mas que se faça uma política pública de proteção as crianças e adolescentes em relação a esse uso”, disse a defensora pública e coordenadora do Núcleo da Infância e Juventude da Defensoria Pública de Mato Grosso, Cleide Regina Ribeiro.  

O Congresso evidenciou que, apesar das dificuldades, as vozes das crianças e adolescentes são fundamentais na construção de um ambiente digital mais positivo.   

O defensor público do Paraná, Fernando Rodrigues, destacou os pontos que ele achou mais importantes nessa roda de conversa, que foi um dos momentos mais esperados do Congresso. “Tem dois pontos muito importantes: um foi colocar adolescentes de várias origens e culturas distintas de Mato Grosso participando, ativos, construindo o pensamento quanto a proteção de direitos na internet, no ambiente digital. E o outro ponto importante é o nosso, adultos, de ouvi-los quanto ao que eles querem, o que eles pensam, os sofrimentos que tiveram na internet para podermos pensar em políticas públicas e direitos mais eficientes”.  

Ao serem ouvidos, esses jovens demonstraram que têm o poder de influenciar mudanças e contribuir para que as redes sociais se tornem um espaço de apoio, aprendizado e respeito. 

O Congresso Nacional das Defensoras e Defensores Públicos da Infância e Juventude é organizado pela Comissão de Promoção e Defesa da Criança e do Adolescente do Conselho Nacional das Defensoras e Defensores Públicos-Gerais (Condege) e pela Escola Superior da Defensoria Pública do Estado de Mato Grosso. O encontro reúne anualmente defensores públicos especializados na área de infância e adolescência, com o propósito de fortalecer a proteção de direitos desses jovens.