A Defensoria Pública de Mato Grosso revisou 1.748 processos de presos provisórios e condenados detidos na Penitenciária Central do Estado (PCE) e identificou que cerca de 90% dos presos têm problemas dentários, 70% têm problemas de saúde e 10% deles, precisam, com urgência, de cirurgias para solucionar casos graves e gravíssimos, os mais diversos.
A iniciativa fez parte do mutirão jurídico executado pelo Núcleo de Execução Penal de Cuiabá (NEP) e pelos integrantes do Grupo de Atuação Estratégica do Sistema Prisional (Gaedic Sistema Prisional), trabalho extraordinário, feito de julho a dezembro deste ano, em todos os raios da PCE. Dos 1,7 mil processos, 1.397 foram analisados pelo NEP e 351, pelo Gaedic.
O defensor público que atua no NEP, José Carlos Evangelista, afirma que pedidos de saúde estão relacionados a casos graves e gravíssimos, envolvendo problemas cardíacos, intestinais, epilepsia, membros do corpo quebrados, balas alojadas e outras situações que exigem cirurgias complexas e eletivas. O coordenador do NEP, defensor público André Rossignolo, explica que o mutirão foi uma iniciativa pensada pela Defensoria Pública, com a colaboração da Secretaria de Administração Penitenciária, e uma das providências, após a detecção da situação, foi a de notificar os responsáveis do Sistema Prisional. Mas, caso as providências não sejam tomadas, o próximo passo será notificar o juiz de execução penal.
“O atendimento médico feito dentro do presídio leva de 60 a 90 dias, após o pedido ser feito. Só então, o preso tem o primeiro contato com o médico, com o dentista. Porém, muitos desses casos são levantados, mas, não são resolvidos, leva muito tempo. É uma situação muito complicada, as famílias ficam desesperadas, muitas querem apelar para o sistema privado. Os casos graves geram muito sofrimento. Já os problemas dentários, parecem uma epidemia e geram muita dor. São cáries, dentes quebrados, estragados e muitos, não conseguem comer, por ter dor de dente. Acredito que vários problemas de saúde são gerados pelos dentários. Bactérias, vírus, caem na corrente sanguínea e afetam o corpo todo, logo, estão interligados. Muitas vezes, um dente cariado mata”, explicou Evangelista.
De 5% a 10% dos casos de saúde, o defensor alerta que os casos são gravíssimos. "Muitos presos têm parafusos nas pernas, pinos e por falta de movimentação, essas estruturas vão dando problemas. Em alguns, a bala está na cabeça e começa a se mover e causa vários outros problemas. E além dos problemas de saúde, que existem por falta de profissionais especializados em número adequado para que haja prestação do serviço, existem outros, relacionados à garantia da liberdade, também por falta de profissionais".
Na execução penal, Evangelista informa que não encontrou presos com pena vencida. "Todos têm o seu pedido feito na hora adequada. Mas, para que o pedido seja analisado pelo juiz, é necessário que o preso tenha o exame criminológico, feito por psiquiatra, e não tem profissional pra fazer esses exames, no volume dos pedidos. Esse foi outro dos problemas que detectamos”, disse.