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RESSOCIALIZAÇÃO


Projeto que propõe a remoção de tatuagens estigmatizantes é premiado em IX Congresso Nacional de Defensores da Infância e Juventude

A adesão dos adolescentes à proposta é voluntária e desde que o projeto teve início, 150 tatuagem foram removidas

Por Marcia Oliveira
28 de de 2024 - 17:34
Bruno Cidade Projeto que propõe a remoção de tatuagens estigmatizantes é premiado em IX Congresso Nacional de Defensores da Infância e Juventude

Defensora que atua no RS com crianças e adolescentes que cumprem medida socioeducativa adota iniciativa que ressocializa e resgata valores


Um projeto que ressignifica valores e remove tatuagens que criam estigmas negativos em adolescentes que cumprem medidas socioeducativas foi eleito em primeiro lugar, entre dez práticas eficazes apresentadas no IX Congresso Nacional de Defensoras e Defensores Públicos, encerrado na sexta-feira, 23. O projeto já removeu 150 tatuagens e é uma iniciativa da Defensoria Pública do Rio Grande do Sul. 

O projeto, intitulado de “Cara Nova - o Início de um Recomeço”, foi apresentado pela defensora Fabiane Lontra e busca facilitar a reinserção social desses adolescentes, por meio da ressignificação de valores. Além do trabalho, outras nove práticas eficientes e inovadoras adotadas por Defensorias Públicas brasileiras, foram apresentadas e fecharam, de forma marcante, o último dia do evento, na Fatec, em Cuiabá.

Fabiane, que atua desde 2016 na área da Infância e Juventude, explica que a ideia surgiu após avaliar que as tatuagens estigmatizavam os adolescentes, colocavam suas vidas em risco e dificultavam o processo de ressocialização. Diante disso, ela propôs a retirada de tatuagens com o uso de laser ou a cobertura delas, com novos desenhos.

“Muitos desses jovens chegam às unidades de internação com tatuagens que simbolizam sua ligação com facções criminosas ou representam os atos infracionais que cometeram. Essas tatuagens reforçam a glamurização do crime e dificultam a reinserção social deles. Percebemos que isso impedia o fundamento da ressocialização e apresentamos a proposta”, disse. 

Um convênio foi assinado com um tatuador, que voluntariamente realiza a remoção dessas tatuagens, dentro das unidades de internação, uma vez por mês, no caso de adolescentes que não têm atividades externas e no seu estúdio, para aqueles do semi-aberto. Entre as tatuagens retiradas a defensora cita as de cifrão, do Tio Patinhas, de crucifixos, de lágrimas, de diamantes, além de frases e números. “A remoção é de adesão voluntária e desde que começamos o projeto, outras necessidades foram surgindo e a ideia original, foi sendo remodelada”, detalhou.

Revisão – Fernanda explica que percebeu que a remoção de algumas tatuagens não trazia o efeito desejado, principalmente esteticamente. E muitos adolescentes passaram a desistir, diante da dor. Ela explica que remover os desenhos com laser dói mais que fazer uma tatuagem. “Alguns desenhos e cores são difíceis de tirar, como o amarelo, por exemplo. E a dor os incomodava muito. Diante disso, os adolescentes passaram a sugerir a cobertura do antigo desenho por outros. E, além dos casos em que a vida do adolescente estava em risco, por causa da tatuagem, passamos a receber pedidos para remoção de frases e nomes que já não tinham significados para os internos”.

Inclusão – Outra novidade foi a participação maior dos adolescentes no processo. A Associação das Defensoras e Defensores do RS aderiu ao projeto e comprou uma maquina de tatuagem e peles artificiais e os adolescentes passaram a ter capacitação, de três meses, para aprender a técnica. Ao final, eles são certificados e a novidade facilitou, não só o ingresso deles no mercado de trabalho, como a redução no tempo de avaliação da ressocialização, pelos juízes. 

“O impacto do projeto foi significativo, a ponto de influenciar a decisão dos juízes em antecipar a avaliação dos adolescentes para cada três meses, invés de semestralmente, como era antes, fato que agiliza o retorno deles para a sociedade. Desde o início da iniciativa diversos jovens ganharam uma profissão e puderam retirar um símbolo que os associava a grupos criminosos. Com isso, reduziram o risco de vida que enfrentam ao retornar para os seus territórios de origem”, explicou a defensora. 

A prática inovadora foi premiada com um quadro do artista plástico Adriano Figueiredo Ferreira e um exemplar do livro que celebra os 25 anos da Defensoria Pública de Mato Grosso. Os mesmos prêmios também foram concedidos às outras duas práticas que conquistaram o segundo e terceiro lugares respectivamente: “Escola de Convivência Familiar”, da Defensoria de Minas Gerais e “Uma trajetória do Cumprimento das Medidas Socioeducativas em Meio Aberto”, da Defensoria do Distrito Federal.