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ABORTO LEGAL


Defensoria Pública divulga nota técnica sobre inconstitucionalidade de projeto de lei que criminaliza aborto legal em MT

Nota técnica assinada pela defensora pública-geral, Luziane Castro, e pela defensora Rosana Leite, coordenadora do Núcleo de Defesa da Mulher (Nudem), afirma que o projeto de lei é inconstitucional e fere os direitos das mulheres nos casos de aborto previstos em lei – gravidez resultante de estupro, risco de morte à gestante e fetos anencéfalos

Por Alexandre Guimarães
15 de de 2023 - 16:03
Bruno Cidade/DPMT Defensoria Pública divulga nota técnica sobre inconstitucionalidade de projeto de lei que criminaliza aborto legal em MT


Nesta quarta-feira (14), a Defensoria Pública de Mato Grosso divulgou uma nota técnica sobre a inconstitucionalidade do projeto de Lei nº 711/2023, de autoria do deputado estadual Gilberto Cattani (PL), aprovado em primeira votação na Assembleia Legislativa de Mato Grosso (ALMT) no dia 1º de junho, que cria o “programa de proteção do direito à vida da criança, desde a sua concepção (período de nascituro), até seu nascimento”, criminalizando todos os casos de aborto, até mesmo os previstos em lei.

A nota é assinada pela defensora pública-geral, Luziane Castro, e pela defensora Rosana Leite, coordenadora do Núcleo de Promoção e Defesa dos Direitos das Mulheres (Nudem).

“Embora a gente reconheça o importante trabalho da Assembleia Legislativa, em especial a de Mato Grosso, que é bastante atuante, neste caso a Defensoria Pública não poderia se omitir, porque estamos diante de uma lei que é flagrantemente inconstitucional”, pontuou Luziane. 

Segundo a nota, desde 1940 o Código Penal assegura o aborto legal nos casos de gravidez resultante de estupro e também quando há risco de morte à gestante (art. 128). Além disso, em 2012 o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu que grávidas de fetos sem cérebro (anencéfalos) podem optar por interromper a gestação com assistência médica.

“A Defensoria atua principalmente na defesa das pessoas mais vulneráveis, no caso mulheres, até mesmo menores de idade, já fragilizadas, nessas situações em que a lei permite, inclusive com o amparo da decisão do STF, para que elas não sofram uma nova vitimização nessa situação de aborto, a gente não poderia deixar de se manifestar”, destacou. 

Ainda de acordo com o documento, o projeto de lei vai de encontro não apenas à Constituição, mas também convenções e tratados internacionais de direitos humanos ratificados pelo Brasil.

“É entristecedor se deparar com um projeto de lei inconstitucional, tendo em vista que o artigo 22, inciso I, da Constituição Federal de 1988, diz que compete privativamente à União legislar sobre direito penal. Então, é um projeto eivado de inconstitucionalidade”, afirmou Rosana. 

O projeto de lei, que teve parecer favorável da Comissão de Constituição e Justiça da ALMT, ainda estabelece que o sigilo profissional, assegurando ao médico e seu paciente, não se aplica nas situações de aborto criminalizadas pela lei, por se tratar de ilícitos penais. 

O projeto foi aprovado por unanimidade pelos deputados estaduais, em primeira votação. Além disso, o projeto de lei determina a comunicação de tentativa ou consumação de qualquer tipo de aborto (mesmo os previstos em lei) à polícia, Ministério Público Estadual e ao Conselho Tutelar.

“Logo, é claro que se trata de um projeto inconstitucional. Todavia, há necessidade de manifestação porque os defensores e as defensoras públicas têm como missão a promoção dos direitos humanos no país. Então, quando há uma ameaça aos direitos humanos, a Defensoria Pública tem que se posicionar”, sustentou a coordenadora do Nudem. 

A nota vai ser encaminhada ao governador Mauro Mendes e à própria Assembleia Legislativa, e a Defensoria Pública vai continuar acompanhando a atuação legislativa e governamental sobre o tema.