O caso chamou a atenção pelo vínculo de afeto inabalável entre Jucélia e o casal que a acolheu. “A gente a criou com todo carinho, deu estudo como pôde, levamos pra igreja. Fizemos tudo por ela”, contou dona Maria, emocionada.
Jucélia relata que já havia tentado regularizar a situação antes, mas foi impedida pelos altos custos. “Quando meu pai ficou doente e me contou toda a história, eu disse que queria ter os nomes deles nos meus documentos. Já tinha tentado e não consegui. Hoje, resolvi tentar de novo e, pra minha surpresa, disseram: vamos fazer hoje mesmo. Foi uma alegria enorme”, relembra. “Eles são meus pais em tudo. Cuidaram de mim a vida inteira e hoje sou eu quem cuida deles”.
A oficialização da filiação afetiva é prevista na Lei de Registros Públicos (Lei 6.015/73) e será analisada pelo juiz coordenador da Justiça Comunitária, José Antonio Bezerra Filho. “Depois de 37 anos, ela é quem agora cuida dos pais. Fomos até a casa da Dona Maria e do Sr. Adelino e presenciamos um cenário de carência extrema, mas de muito amor. Esse caso revela a essência do projeto Ribeirinho Cidadão: garantir direitos com humanidade”, afirmou o magistrado.
Inicialmente, Jucélia buscava uma interdição para cuidar legalmente dos pais, mas após ser ouvida pelo servidor Joaquim de Oliveira Júnior, o pedido se revelou mais profundo. “Ela queria mesmo era ser reconhecida como filha. Conversando mais com ela. Eu descobri que era essa a intenção dela, ter o nome dos pais afetivos na sua certidão de nascimento junto com o nome dos pais biológicos. Ao ver o termo de guarda assinado por uma juíza em 1966, entendi o que ela buscava”, destacou.
A história de Jucélia é mais do que um caso jurídico — é o retrato da força do afeto, da importância da Defensoria Pública e do impacto social do Ribeirinho Cidadão, que continua nesta quinta-feira (11) ainda em Jauru, antes de partir para a cidade de Reserva do Cabaçal e encerrar a edição em Salto do Céu, com um casamento comunitário.