A Defensoria Pública do Estado de Mato Grosso (DPEMT) lançou a campanha “O primeiro passo vem com um gesto: Denuncie!” para incentivar as mulheres vítimas de violência doméstica a denunciar as agressões logo no início, evitando a escalada do ciclo de violência, que pode levar ao feminicídio.
Em 2023, Mato Grosso registrou a maior taxa de feminicídios do país, com 2,5 mortes para cada grupo de 100 mil mulheres, segundo os dados divulgados pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP).
No último dia 8 de março, o primeiro vídeo da campanha foi publicado no Instagram do órgão (@defensoriapublicamt), contando a história de Raquel, que foi esfaqueada pelo ex-companheiro 17 dias após realizar uma cirurgia de laqueadura. Clique aqui para assistir.
“Eu apanhei tanto, mas tanto. Ele me botou com olho roxo, quebrei três costelas. Tentei separar, ele falou que ia mudar. Na terceira vez, eu consegui fugir. Fui na Defensoria e consegui todo o respaldo para poder seguir. Eu falo para todas as mulheres: existe vida depois da agressão sim! Na primeira agressão, ela já tem que denunciar”, relatou.
A defensora pública Rosana Leite, coordenadora do Núcleo de Defesa da Mulher (Nudem), em Cuiabá, explica que as vítimas de violência podem procurar primeiro a Defensoria Pública, até mesmo antes de ir à delegacia, para receber orientações, assistência jurídica gratuita, e todo o apoio necessário para quebrar o ciclo de violência.
“Muitas mulheres acabam procurando a Defensoria Pública, o Nudem, mesmo antes de lavrar um boletim de ocorrência para entenderem se estão sendo vítimas ou não de violência doméstica ou familiar. É claro que, nesse momento, se a pessoa tem dúvida ela já é uma vítima”, revelou.
Como explica o material da campanha, a violência normalmente começa “pequena”, com um empurrão, uma ameaça, e depois escala, podendo levar até ao feminicídio - o assassinato da mulher motivado por violência doméstica, por menosprezo ou discriminação à condição de mulher. Por isso, a primeira agressão não deve ser ignorada.

“A Defensoria Pública ajuda as mulheres a quebrarem esse ciclo da violência, saírem dessa situação. Mas, quanto antes elas se enxergam como vítimas, melhor é para evitar uma situação pior. Elas podem ser assassinadas em qualquer fase do ciclo”, afirmou Rosana.
De acordo com a defensora pública Olzanir Carrijo, que também atua no Nudem, estudos indicam que o ciclo de violência é composto por três fases, que muitas vezes se repetem e perduram por muitos anos.
“A primeira fase é a de tensão. O agressor passa a ter comportamentos estranhos, como ficar irritado por coisas insignificantes, raiva excessiva, e a mulher sente medo, fica insegura, ansiosa, frágil, e nessa fase tende a negar para ela mesmo o que está ocorrendo, além de esconder dos amigos e dos parentes. A segunda fase é a da agressão efetivamente, onde ocorrem as agressões física, psicológica, patrimonial, sexual e moral. Essa fase é o pico da violência, com altos índices de feminicídio. A terceira fase é a lua de mel, quando o agressor se arrepende, diz que vai mudar e faz promessas. Já atendemos casos de assistidas com 30 anos de casamento que passaram por esse ciclo. Depois da lua de mel, tende a se repetir a fase da violência. Por isso, a mulher tem que denunciar logo no início, para que saia imediatamente desse ciclo de violência”, explicou.
Estudos e a experiência mostram, segundo a defensora, que as mulheres têm muita dificuldade de sair desse ciclo de violência por uma série de fatores, como dependência econômica e emocional, por querer criar os filhos juntos, por medo de não ser acolhida pela sociedade como pessoa separada, por falta de apoio de familiares, amigos, entre outros.
Entretanto, a história da Raquel demonstra que dar o primeiro passo e denunciar, desde o início, é a chave para romper o ciclo de violência.
“É muito importante vocês darem esse primeiro passo. É muito importante vocês entenderem que não precisam passar por isso sozinhas. Depois que você der esse primeiro passo, você vai ver sua vida mudar para melhor”, destacou.
Para isso, as mulheres contam com a ajuda da Defensoria Pública, que luta pela defesa dos direitos das vítimas e seus familiares, garantindo a assistência jurídica gratuita e especializada.
Busque ajuda, denuncie e lembre-se que a Defensoria está sempre a postos para receber e ajudar as vítimas em qualquer momento ou situação de violência.
É só chamar no WhatsApp: (65) 99963-4454 ou procurar o núcleo mais perto da sua residência. Clique aqui para acessar os contatos dos núcleos da DPEMT.